Hoje eu vou falar sobre um dos desafios da clínica, que acredito eu, todos os profissionais de saúde passam ou já passaram: a comunicação! Não vou trazer números estatísticos, tampouco pesquisas científicas sobre o assunto. Apenas uma reflexão e um pouco do que já vivenciei.
Há quase 10 anos eu trabalho diretamente com comunicação. Como fonoaudióloga, sempre estudei e atuei nas diferentes formas de melhorar a comunicação do meu paciente. No entanto, meu olhar hoje sobre esse tema é do ponto de vista de quem atende o paciente, ou seja, a comunicação terapeuta e paciente.
Mas afinal, o que é a comunicação?
O conceito de comunicação é definido por partilhar informações, trocar mensagens, tornar comum. Por meio da comunicação nos relacionamos com o outro, transformamos a realidade e a nós mesmos. Somos seres sociais, o ato de comunicar é essencial para a vida em sociedade e é dessa forma que interagimos com o mundo.
Quando transmitimos uma mensagem, não estamos nos comunicando efetivamente, estamos apenas informando. Informação é diferente de comunicação. Para acontecer a comunicação eu preciso de elementos essenciais que sempre estarão presentes, como o emissor, a mensagem e o receptor. Parece simples, mas essa capacidade de comunicação do homem é complexa e multifacetada.
Para comunicar é preciso considerar o contexto social, emocional e físico de quem vai receber a informação, identificar qual o meio mais adequado para transmitir a mensagem, a mensagem precisa estar clara para que o receptor consiga interpretá-la e a escuta ativa é fundamental para garantir a atenção à resposta de quem recebeu a informação.
Na última década, passamos por uma transformação na forma como acontece a comunicação. Conseguimos nos comunicar facilmente a longas distâncias e em qualquer tempo. Hoje dispomos de várias maneiras de nos comunicarmos, com a evolução das tecnologias digitais, utilizamos plataformas segmentadas em diferentes contextos, com recursos que podem agregar sentimentos e emoções, como emojis, stikers, gifs. Nos permitindo dar o tom da mensagem, transmitindo mais informalidade, aproximação e intimidade. São recursos que nos ajudam e ampliam nossas possibilidades de interação, porém, nada supera a presença.
A comunicação face a face é a melhor forma de atingir uma comunicação efetiva. As ferramentas pelo meio presencial são completas. Você tem a mensagem transmitida, o tom de voz, a entonação, o olhar, as expressões faciais, o posicionamento corporal e os gestos. Todos esses elementos verbais e não verbais estão presentes e expressam sentimentos e emoções permitindo a interação com o outro, que recebe a mensagem e emite uma reação imediata, envolvendo os mesmos elementos.
A comunicação é um tema muito abrangente e em outros momentos podemos abordá-la de outras formas, desmistificando outros aspectos. Mas hoje eu quero destacar a comunicação no contexto da saúde.
Como a comunicação terapeuta X paciente impacta no processo de saúde?
Um processo de reabilitação em qualquer que seja a área de atuação implica em um atendimento contínuo, muitas vezes em um período longo de convivência. Neste contexto acontece a construção de uma relação terapeuta x paciente. Esta relação implica diretamente na adesão ao tratamento, o que torna a qualidade desse vínculo um fator essencial para a efetividade da reabilitação. O paciente/família também fazem parte da equipe multiprofissional e para que aconteça a adesão efetiva ao tratamento é de fundamental importância que ele tenha acesso às informações sobre seu caso e compreenda os objetivos do seu tratamento.
Quanto melhor a comunicação, o entendimento e alinhamento, melhor o resultado clínico. Quando há falhas na comunicação e as informações ficam fragmentadas, há um grande risco de resistência às intervenções propostas, ao não seguimento das orientações e até mesmo à desistência ao tratamento.
Para o sucesso do tratamento não basta recorrer aos melhores métodos e técnicas mais adequadas à reabilitação, é preciso construir uma relação de confiança com o paciente, e para isso, é necessário refletir sobre como está a sua comunicação com o seu paciente.
Algumas perguntas podem ajudar a perceber como essa relação se encontra e como aprimorar continuamente essa comunicação.
- A mensagem que você está transmitindo, está sendo recebida como você espera?
- O meio que você utiliza está sendo suficiente para a compreensão da mensagem?
- Você está considerando o contexto social, emocional e físico de quem está recebendo?
- Como está a sua escuta ao paciente? Está dando espaço para ele se expressar? está compreendendo suas queixas, dúvidas e pontos de vista? Está acolhendo suas dores e necessidades?
Quando faço uma percepção da minha comunicação, consigo compreender melhor a minha mensagem a partir das perspectivas do outro e a partir disso posso corrigir algumas falhas de comunicação.
- Posso modificar a minha entonação e enfatizar os pontos mais importantes;
- Embasar o que eu disse, o que parece óbvio para mim é novidade para o outro, talvez seja melhor explicar com mais detalhes;
- Utilizar imagens como apoio;
- Fazer uso de analogias para que a mensagem fique mais compreensível;
- Disponibilizar a informação em tópicos mais importantes por escrito ou digitalizado de forma que fique acessível em qualquer momento;
- Fazer silêncio e escutar olhando nos olhos, dar espaço para o processamento das informações.
Entender não somente o que precisa ser dito, mas como e quando precisa ser dito pode ajudar a quebrar barreiras que surgem durante todo esse longo processo. A comunicação com qualidade reflete em um paciente/família/cuidador empoderado, que compreende a importância das terapias envolvidas no seu processo de saúde e dá seguimento aos cuidados no ambiente domiciliar, o que é essencial para o sucesso da reabilitação.
E você? como está a sua comunicação com o seu paciente? já fez essa pergunta? Fique a vontade para compartilhar seus desafios, experiências e situações comunicativas que ajudaram a conectar e engajar seu paciente. Vou adorar saber!
Escrito por:
Nossa founder e fonoaudióloga com experiência de 6 anos no atendimento de crianças com necessidades especiais em formato multidisciplinar, encontrou todas as dores que focamos em resolver quando foi atender em clinica particular, ela é a nossa guia e tem o desafio de fazer a ponte entre a área de desenvolvimento e os usuários finais.